Marcha global indígena na COP30 exige demarcação e financiamento climático




Milhares de povos originários de diferentes continentes realizaram a Marcha Global dos Povos Indígenas nesta segunda-feira (17) pelas ruas de Belém, capital do Pará e sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). O protesto exigiu ações imediatas das autoridades para garantir os direitos territoriais e o papel dos indígenas como agentes climáticos.

Com o lema “A Resposta Somos Nós”, a marcha teve início na Aldeia COP, a base montada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), e encerrou-se no Bosque Rodrigues Alves.

Eixos Centrais da Reivindicação

A manifestação centrou suas reivindicações em cinco eixos considerados cruciais para a proteção do clima e dos povos:

Reconhecimento territorial como política climática;


Desmatamento zero e fim da exploração de combustíveis fósseis e de mineração nos territórios;

Proteção dos defensores dos direitos humanos e ambientais;

Acesso direto ao financiamento climático;

Participação indígena com poder real nas negociações.

O coordenador executivo da APIB, Kleber Karipuna, destacou que, apesar de a COP30 no Brasil ter reunido um número recorde de indígenas, a mobilização é fundamental devido à intensa pressão de lobistas do petróleo, mineração e agronegócio presentes no evento. “O que a gente quer é o avanço das demarcações e homologações das terras indígenas. Ao fazer isso, o governo federal vai sinalizar de que lado efetivamente está”, afirmou Karipuna.

Promessa de novas demarcações

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, participou da marcha e garantiu que o governo federal fará novos anúncios em breve. “O presidente Lula, ainda nessa COP, vai fazer mais um gesto para avançar com a demarcação de terras indígenas. E nós vamos sair daqui, sim, com portarias declaratórias e com territórios marcados”, disse a ministra.

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Guilherme Boulos, saiu em defesa de Guajajara e garantiu o compromisso do presidente. Boulos afirmou que o processo de homologação é complexo, envolvendo diversos ministérios, mas que “nas próximas semanas” haverá novas homologações de terras indígenas e portarias declaratórias.

Vozes globais e a luta por justiça

Manifestantes como Irleusa Robertino, presidente da Associação Indígena Apiaká Iakunda’Y, do Pará, cobraram celeridade na demarcação total do território de seu povo, que ainda sofre com invasões de madeireiros e mineração ilegal. Robertino enfatizou que a luta indígena é um legado passado de geração para geração.

Representantes de outros continentes, como Calvin Wisan, da Indonésia, e a filipina Joan Carling, diretora executiva da Indigenous Peoples Rights International, trouxeram desafios globais. Carling discursou contra a violência territorial e a favor da justiça climática: “Como povos indígenas, nossas terras não estão à venda. Nossos direitos não são negociáveis. Que os poluidores paguem por tudo o que fazem”.




Por Rafael Cardoso
© Bruno Peres/Agência Brasil