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Família de RO é deportada dos EUA; mulher com doença rara perde tratamento e relata dificuldades no SUS

Em entrevista, S.* relatou que há cerca de seis meses o marido comemorava a eleição de Donald Trump, acreditando que as medidas migratórias mais duras não o afetariam por não ter antecedentes criminais. Trabalhador da construção civil, R. ganhava cerca de US$ 200 por dia e confiava em promessas de melhora econômica feitas pelo então candidato republicano.

Apesar da expectativa, a família foi convocada pelo ICE (Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA) para uma suposta atualização de processo migratório. Ao comparecer ao local, os três foram informados de que seriam deportados imediatamente. Os celulares foram apreendidos, o carro ficou no estacionamento e, em menos de 48 horas, desembarcaram em Fortaleza.

S.*, que sofre de uma doença autoimune grave, participava de um tratamento experimental nos EUA e teve o quadro estabilizado durante a estadia no país. No Brasil, ainda não conseguiu atendimento especializado pelo SUS. A médica que a avaliou no hospital de Presidente Médici sequer conhecia a enfermidade, tendo que consultá-la no CID (Código Internacional de Doenças).

A condição da paciente já apresenta sinais de agravamento, com feridas visíveis no rosto e o retorno de sintomas severos, como perda de peso e dificuldades de locomoção. A família atualmente vive em condições precárias, hospedada na casa da sogra, e depende da aposentadoria dos pais para se alimentar.

R. era monitorado por tornozeleira eletrônica antes da deportação e, segundo S.*, chegou a cogitar mudar de estado ou retirar o equipamento, mas preferiu manter a cooperação com as autoridades migratórias. Hoje, lamenta a decisão.

O caso dos rondonienses é um entre tantos que se multiplicam após o endurecimento das políticas migratórias sob a nova gestão de Trump. Segundo estimativas do Pew Research Center, cerca de 230 mil brasileiros vivem de forma irregular nos EUA. Muitos, mesmo sem poder votar, apoiaram abertamente o republicano, acreditando que seriam poupados das medidas mais severas.

A consultoria Legacy Imigra, especializada em processos migratórios, afirma que a demanda por assistência jurídica dobrou desde o início do novo mandato de Trump. Dados do ICE apontam aumento de operações contra imigrantes, com reforço de patrulhas e colaboração de forças armadas. Brasileiros relataram mudanças no cotidiano, como retirada de filhos da escola, mudança de rotas para evitar fiscalizações e abandono de empregos mais visados.

Enquanto a administração Trump afirma ter deportado 135 mil pessoas nos primeiros 100 dias, dados independentes do TRAC (ligado à Universidade de Syracuse) indicam cerca de 72 mil remoções, número similar ao do último ano da gestão Biden. Os voos com deportados para o Brasil passaram a ocorrer a cada 15 dias, contra a média de um a cada três semanas na gestão anterior.

R. e S., agora de volta a RO, buscam emprego para tentar recomeçar. A dívida de R$ 50 mil com o “coiote” que os ajudou na travessia pela fronteira do México permanece em aberto. O filho, ainda pequeno, sente a mudança e chora pela vida deixada na Flórida, onde havia brinquedos e guloseimas preferidas.

A imagem de ano-novo no WhatsApp de S. ainda mostra a família sorridente, usando camisetas com os dizeres “2025, ano profético”. Hoje, sua mensagem de status é uma súplica: “Senhor meu Deus, não desista de mim.”


Fonte: UOL