Morto no banco: filho de mulher presa com idoso diz que mãe lhe telefonou do banco em desespero

Sobrinha Érika leva corpo de Paulo Roberto Braga a banco para casar empréstimo — Foto: Reprodução

Após ver o vídeo em que sua mãe, Érika de Souza Vieira Nunes, de 48 anos, aparece levando o tio Paulo Roberto Braga, de 68 anos, a uma agência bancária para sacar um empréstimo de R$ 17 mil, o bombeiro militar Lucas Nunes dos Santos, de 27 anos, disse acreditar que ela “estava completamente fora de si”. Nas imagens do dia 16, a mulher conversa com o idoso inerte numa cadeira de rodas. Diante da cena, funcionários do banco acionaram o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), que atestou a morte de Paulo.


— Quem em sã consciência conversa e mexe em um morto? — indagou o filho. — Dá para ver que não é a face (a dela) de uma pessoa normal.


Lucas disse que recebeu dois telefonemas da mãe quando ela estava no banco. Ele conta que a dona de casa entrou em desespero e ficou desnorteada com a morte do tio.


— Primeiro, minha mãe ligou dizendo que o tio Paulo tinha passado mal. Ela falou para mim e para o meu irmão que eles estavam em um banco de Bangu, mas ela não conseguia dizer o endereço. As informações não ficaram claras. Só disse que estava esperando o Samu chegar — conta Lucas.



Segundo o filho de Érika, após esse telefonema, ela demorou a dar notícias. Ele então começou a ligar para ela até ser atendido:


— Na segunda ligação, ela já estava desesperada e desnorteada. Chorava bastante e não estava dizendo coisa com coisa. Só conseguiu falar que ele tinha falecido e que estava em um banco Itaú, mas era nítido que estava fora de si.


Após saber da morte do tio, Lucas e um irmão saíram a procura da mãe. Eles caminharam pelo calçadão de Bangu até encontrar a agência bancária certa.


— A partir dali, não conseguimos ter contato com ela. O banco já estava isolado quando a gente chegou e depois a polícia a conduziu à delegacia. Foi a última vez que vi minha mãe pessoalmente.


Lucas contou que a mãe sofre de depressão desde 2019, quando passou por uma cirurgia bariátrica. Segundo ele, nos últimos anos ela tem vivido sob efeito de muitos remédios.


— Ela estava sob efeito de medicamentos. Tenho certeza de que ela não percebeu que o tio Paulo já tinha morrido. Em juízo normal, a minha mãe não ia conversar e pedir para um morto assinar um papel — afirma o bombeiro, lembrando o momento em que Érika tenta colocar uma caneta na mão do tio e pede a ele para assinar o documento.

‘Todo lugar tem câmeras’

Segundo o filho, o quadro de saúde psiquiátrico de Érika tem piorado nos últimos anos:

— A minha mãe chegou a um ponto em que os remédios não fazem mais efeito. Ela fica dopada por dias, tem pensamentos suicidas e alucinações auditivas. Fora que, mesmo que ela estivesse consciente, hoje em dia todo lugar tem câmeras, um golpe desse é impossível. Se ela quisesse o dinheiro, ia dar um jeito de sair o mais rápido possível do banco, não ia ficar conversando com o defunto.

Érika, que tem seis filhos — quatro deles moram com ela —, foi presa ainda no banco por furto mediante fraude e vilipêndio a cadáver. No inquérito, obtido pelo GLOBO, a defesa da acusada apresentou relatórios médicos, atestando que ela iniciou em 2022 um acompanhamento intensivo, que indicou o uso de remédios. Um dos profissionais chegou a pedir a internação psiquiátrica da paciente “dependente de sedativos e hipnóticos”. A defesa pediu que ela fique em prisão domiciliar para cuidar da filha com deficiência, de 14 anos, que “precisa de sua presença física e afetiva no seio familiar”

Fonte: Extra.globo